Ah, mas esse cartão me dá 1% de cashback!
Amado por uns, odiado por outros, o cartão de crédito é tema constante nos atendimentos da consultoria de planejamento financeiro
Muito provavelmente todo planejador financeiro já ouviu e teve de lidar com alguma situação envolvendo o uso de cartão de crédito por seus clientes. Comigo, não tem sido diferente. Amado por uns, odiado por outros, o tal do cartão de crédito é uma constante nos atendimentos da consultoria de planejamento financeiro. E há motivos reais para essa recorrência. A ferramenta exige mesmo mais de nós, meros humanos. Explico.
O começo do pequeno caos acontece em nosso cérebro. Tudo porque o cartão elimina nossa dimensão de “gastei e terei de pagar”. Pela falta de atrito em seu uso, quase nem nos sentimos gastando. Passa aqui o cartão, passa acolá. Sim, eu sei que você sabe que está gastando, mas é mais que isso: não nos sentimos fazendo isso. Gastar sem sentir a saída do dinheiro no momento da compra é muito prazeroso. O gênio que criou isso mandou muito bem! Palmas.
Além dessa grande satisfação do “compra agora, pague depois”, a indústria do cartão passou a oferecer prêmios pelo uso. Aí é que entram as milhas e cashbacks. Já pensou em ser recompensado por gastar? Com essa estratégia, as empresas ativam ainda mais a sensação do prazer do consumo, ao passo que inibem dimensões de racionalidade, algo na linha do que passo a contar a seguir.
Em um encontro de consultoria voltado para tratar do uso de cartão de crédito, a cliente, que tinha por hábito usar sem muito critério três cartões simultaneamente para atravessar o mês, me disse o seguinte sobre um deles:
Cliente: Neste aqui eu fico ansiosa para completar R$ 5 mil de compras.
Eu: Como assim ansiosa para completar esse valor?
Cliente: Quando minha fatura chega ali pelos R$ 3 mil, eu começo a ter vontade de chegar ao valor e os R$ 5 mil, para ganhar cashback.
Eu: Ah, tem um cashback. Qual é o valor?
Cliente: Se eu completar R$ 5 mil de compra, ganho 1% de cashback.
Eu: Ou seja, você ganha R$ 50.
Silêncio ensurdecedor na sessão.
Sim, uma grande ficha caiu. A pessoa estava gastando mais do que deveria gastar “empurrada” pelo estímulo do ganho de 1%. Esse foi o impacto da informação.
Dito isto, avancemos mais um pouco, sem tornar esse assunto um Fla x Flu sobre o cartão ser bom ou ruim. A gente é mais sabido que qualquer polaridade. Acompanha os pontos e leva essas reflexões para o seu dia a dia:
1) O uso do cartão de crédito demandará, necessariamente, mais energia e atenção de você, porque ele impõe o desafio de lidar com esferas de prazer mais ativadas no consumo. Quanto mais prazer, menos racionalidade;
2) Ter menos cartões pode ser mais. Se lidar com um cartão de crédito já vai demandar de você, imagina 2, 3, 4 pedacinhos de plástico na bolsa ou diante do site de compras;
3) Fique atento ao limite de crédito dos seus cartões, se são condizentes com sua estrutura orçamentária e planejamento financeiro. O perigo de usar “sem sentir” é ignorar os valores de fatura no seu orçamento e se embolar para pagar.
Ah, uma coisa importante: se você vive um pequeno caos por aí com uso de cartões, o caminho não é se culpar – mas também não deve dar bobeira. É uma bobeira caríssima de ser ajustada, em razão dos juros altos. Obviamente, não sei os motivos que levaram você à situação, mas digo sem medo: sem orientação e conhecimento, é mais muito fácil se enrolar com a ferramenta do que ser bem-sucedido com ela.
Sendo assim, espero que esse post tenha ajudado você.
Se ainda precisar de ajuda, me dá um oi que marcamos um papo inicial, on-line e gratuito, para ver como posso ajudar você por meio do meu trabalho de planejadora financeira. Vai ser um prazer pensar em como lhe ajudar.